quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Nem para adubar a terra

Iniciando os trabalhos aqui no “Vida Cancheira”, destacamos a cobertura feita do jogo de volta da Copa Roca, que já não era disputada há longevas 3 décadas e meia. E o Brasil conquistou seu 9º título (ou 8º, desconsiderando o título dividido em 1971), graças à vitória tranquila por 2-0 sobre o maior rival, com gols dos meninos Lucas e Neymar.

Já nas convocações poderia ser perceber o que seria a tônica do jogo, com um Brasil muito ofensivo, até porque precisava desta vitória para levantar o moral, e uma Argentina fechada, com jogadores defensivos em sua maioria. Não houve surpresas, Mano Menezes mandou a campo um time armado no 4-3-3, apostando muito na velocidade e habilidade dos jovens pontas Neymar e Lucas, [mal] assessorados por Ronaldinho, enquanto Alejandro Sabella abusou da boa vontade de seus defensores, montando um 3-6-1 [com a maior cara de 5-4-1] com 3 volantes, formação de dar inveja a técnicos que passaram [ou estão] pela aldeia, como Celso Roth, ou Jorge Fossati.

Consegui acompanhar a partir dos 15’ da 1ª parte, mas se a televisão se mantivesse desligada todos os 45’ certamente teria perdido pouquíssimo. Foi praticamente um treino de ataque contra defesa, com grande público no Mangueirão. Contudo, não houveram maiores efeitos práticos, a muralha proposta por Sabella protegia muito bem o gol de Orión, inclusive descendo a lenha nos leves avantes brasileiros quando necessário. Jogo truncado, muitas faltas, algumas delas bastante desleais, destacando-se os zagueiros Réver e Sebá Domínguez neste critério. Chance de gol, somente uma, quando Borges cruza rasteiro, e Neymar erra em bola dentro da pequena área.

Na 2ª etapa o jogo começou bem mais agitado, os argentinos perceberam que o bicho não era tão feio quanto se pintava, e resolveu arriscar, soltando um pouco mais o meia Fernández, e os laterais Papa e Pillud. Como costuma dizer o locutor Galvão Bueno, a Argentina “começou a gostar do jogo”, e isto foi fatal. Em contra-ataque fulminante puxado nas costas de Papa, Lucas encarreirou 40 metros, e fuzilou Orión. O gol desestabilizou os argentinos, que já não vinham bem, e tinham o fardo de tentar ao menos empatar o jogo com um time deveras inferiorizado em relação ao brasileiro. As chegadas mais importantes eram em faltas laterais cobradas pelo bom volante Canteros, do Vélez Sarsfield, jogador a se observar com atenção.

Enquanto isto, Neymar e Ronaldinho faziam exibicionismo, ou “graça para o Diabo rir”, como prefiram, que levava do nada a lugar algum. Tanto é, que Orión praticamente não trabalhava, Domínguez, Ré [!] e Cellay [!!] não ficavam tão expostos aos avantes do Brasil, e o jogo se arrastava modorrentamente rumo ao seu final. Mas ninguém escala meia defesa que há 4 dias atrás levou 3 gols do Belgrano de Córdoba, e era questão de tempo para que o queijo suíço ficasse exposto às moscas. No caso, a Diego Souza e Neymar, que matou o jogo, com participação importante de Papa. Sabella sentiu a partida escorrendo pelo ralo, e apostou em Mouche, pensando que a dupla de ataque líder do Apertura com o Boca Juniors resolveria alguma coisa.

Ledo engano. Jefferson até que trabalhou um pouco, Viatri incomodou um bocado, só que com pouca ajuda dos meio-campistas – e ressalto aqui o esforço comovente de Montillo em fazer da Argentina o seu Cruzeiro, e tentar, sem sucesso, levar o time nas costas –, não havia a menor condição tirar o placar do visitante do zero. Teve até taça para comemorar o título [sic] da Copa Roca, festa nas arquibancadas, Galvão dizendo que “ganhar é muito bom, ganhar da Argentina é melhor ainda”, mas não esperei para ver a volta olímpica. Foi mais fácil conjecturar conclusões sobre este confronto, e tentar fazer com que saísse alguma coisa útil em nível de comentário.

A partida de hoje apresentou ao mundo o excelente lateral Bruno Cortês, para mim (e para o Casagrande) o melhor jogador em campo, como há 2 semanas atrás Leandro Damião havia tido seu maior destaque com a canarinho. Houve um momento em que o jogador do Botafogo fez a jogada na linha de fundo, os argentinos ensaiaram um contra-ataque rápido, e, como por tele transporte, 15 segundos depois, nem isto, Cortês estava afastando a bola no fundo do campo defensivo. Impressionante. Lucas provou que merece mais algumas chances no time titular, Neymar precisa ser um pouco mais o do Santos, e menos o da Seleção, e só, o resto pode ensacar e mandar para o Leste Europeu.

Considerei fraca a convocação de Sabella, mais fraco ainda o time mandado a campo. Os argentinos vieram decididos a levar a partida para a marca da cal, e nada mais que isto. Muita marcação, por vezes violenta, alguns lampejos técnicos de Montillo que, mesmo assim, é jogador de clube, não tendo capacidade para lustrar as chuteiras dos seus compatriotas que atuam no futebol europeu. Os demais são insuficientes até para o futebol argentino, tendo em vista que Hauche, Mouche e Papa, por exemplo, sequer são titulares absolutos em seus clubes. Entretanto, ao contrário do Brasil, os melhores jogadores argentinos atuam na Europa, e a Copa Roca foi mais um passatempo caça-níqueis para a AFA.

Foram 2 partidas de pouca valia, somente para constar no registro histórico e fazer com que os fãs de Belém [e Córdoba?] vissem seus ídolos de perto. Um torneio [?] nestes moldes serve para muitos poucos testes, mais para a Seleção Brasileira, tendo em vista as poucas alternativas disponíveis no exterior. Pelo visto, ao contrário do que o resultado sugere, Mano Menezes terá muito mais trabalho do que Alejandro Sabella...

Nos Acréscimos
  • A noite de futebol na quarta-feira não limitou-se apenas à Copa Roca. Tivemos um confronto importante entre os 2 últimos campeões da Copa Sul-Americana, LDU Quito e Independiente. Vitória tranquila de Los Albos, por 2-0, jogando no Casablanca. Gols de Paúl Ambrosi e Luis Bolaños, ex-Inter e Santos.

  • Também tivemos a festa comemorativa do Decano do futebol uruguaio, o Peñarol, que recebeu o San Lorenzo de Almagro, para um amistoso festivo [em um Centenário esvaziado]. Acompanhei alguns momentos da partida, dominada e vencida pelo Carbonero, pelo placar de 2-0. Gols de Marcelo Zalayeta e Jorge Zambrana.

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