sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mística e Tradição: privilégio de poucos

É sabido, não escondo de ninguém, que sou simpatizante do Nacional, do Uruguai, por motivos muito além de alianças de torcidas, como alguém pode supor, mas por questões de afinidade e pela convivência de ter um dos meus melhores amigos de infância torcedor fanático do Bolso (apesar de colorado). Por isto, também, liguei a televisão no início da noite de ontem para assistir a um confronto válido pela 1ª fase da Copa Libertadores da América, competição que meu time sequer sonhou em jogar este ano (o Grêmio, não o Nacional, que está na Copa). Até porque, além da rivalidade, há o respeito pelo[s] "co-hermano"[s] (sic) e sua[s] história[s]. História de um dos maiores campeões da América, com 5 títulos (só perde para o Independiente [7] e Boca Juniors [6]) em 10 finais (maior finalista), além dos seus 3 Mundiais.

Enfim, a camisa carbonera entrou em campo ontem à noite para receber o emergente Caracas, maior clube da terra de Hugo Chávez, em um Centenario lotado e vibrante, como de costume. Clima total de Copa, fumaceira e gritedo para cima dos venezuelanos. O time do atual vice-campeão foi desmanchado ao fim da última Libertadores, com a saída de jogadores importantíssimos, como o trio final Martinuccio, Mier e Olivera. Diego Aguirre também saiu, dando lugar a Gregorio Pérez, de bom trabalho no Libertad, do Paraguai. Pérez segue a linha mais ofensivista, da escola do "Maestro" Óscar Tabárez e de Juán Ramón Carrasco, escalando 3 atacantes. De time reativo, tornou-se um time proponente de jogo, evolução sentida na maioria das equipes uruguaias, outrora acostumadas a utilizar-se do sempre digno retrancão.

Foi um início de jogo bastante equilibrado, como Galvão Bueno dissera certa feita, em um raro momento de lucidez, "não tem mais bobo no futebol" (sic), referindo-se a algum time peruano, ou a seleção de Honduras. O Caracas já chegou a 2 fases finais de Libertadores nos anos 2000 (eliminado nas oitavas em 2007, pelo Santos, e nas quartas em 2009, pelo Grêmio), os principais jogadores tem boa rodagem, com passagens pela seleção local. Portanto, tratava-se de um confronto perigoso no pré-jogo, o que confirmou-se em campo. Os venezuelanos aproveitavam-se da ansiedade do Peñarol, que errava muitos passes no campo de ataque, e ia apenas na boa. A centralização da armação das jogadas em Aguiar não surtia muito efeito, os setores de meio-campo e ataque pareciam fora de sintonia.

Poucas chances de gol haviam sido criadas, sobretudo da parte do Peñarol, o que tornava o jogo até chato, em alguns momentos. Até que aconteceu o lance que determinou o futuro da partida, e dos clubes na Copa Libertadores. Aos 30', Ferreira obrigou Carini a fazer boa defesa, e, no rebote, o uruguaio recuperou a bola e foi derrubado por González na grande área: pênalti para o Caracas. Na cobrança, Jiménez executou mal, mandando uma bomba em cima do goleiro carbonero. Nessas horas a camisa pesa, a torcida acorda e o time começa a jogar. 10 minutos foram o suficiente para que o Peñarol encaminhasse sua classificação, antes da descida aos vestiários. Os gols de Nicolás Freitas, aos 35', e do veterano Marcelo Zalayeta, aos 38', davam uma vantagem muito confortável aos donos da casa, tanto no placar, quanto no campo.

Pois em um confronto de mata-mata copeiro é assim: saiu atrás, tem que correr para buscar o prejuízo. E assim voltou o Caracas para a 2ª etapa, disposto a buscar o marcador, entretanto, a maior qualidade, experiência e tradição do Peñarol foram determinantes. Entre os 20' e 25' do 2º tempo o Manya matou o jogo, com gols do brasileiro João Pedro (em falha impressionante do goleiro Renny Vega) e do atacante Estoyanoff. Dali em diante foi jogar para que os hinchas curtissem a classificação quase garantida, e poupar alguns jogadores, principalmente o amarelado autor do 4º gol. Ainda houve tempo para a expulsão do zagueiro paraguaio Fidel Pérez, do Caracas. Nada que modificasse um panorama já modificado em função do peso de uma camiseta multicampeã, que faz um adversário tremer em um penal a seu favor, e depois abrir o caminha para uma goleada. Impressionante!

Nos Acréscimos
  • O Peñarol, com a goleada, praticamente se garante no grupo 8, mais um "de la muerte", com os já garantidos Universidad do Chile, Atlético Nacional e Godoy Cruz. Por falar no Godoy Cruz, os mendoncinos estão sediando um dos Torneos de Verano, tradicionais na inter-temporada argentina, e, após o jogo da Libertadores, o Tomba recebeu o San Lorenzo, vencendo por 3 a 2, e garantindo o título da Copa Ciudad de Mendoza, com 2 vitórias (venceu também o San Martín, de San Juán) em 2 jogos.
  • Ontem o Gauchão não parou, com 3 partidas. No Alfredo Jaconi, o Juventude venceu com facilidade o Pelotas, pelo placar de 3 a 0 - o alviverde recebe o Grêmio, no domingo. Em Porto Alegre, o time sub-23 do Inter foi derrotado pelo Cerâmica, de Gravataí, por 2 a 1. E no principal jogo da rodada, o clássico Ave-Cruz, deu a lógica: vitória do Santa Cruz, nos Plátanos, por 2 a 0, gols de Leonardo e CREEDENCE. Em 107 clássicos, esta foi a 64ª vitória do Galo. Paternidade absoluta. Periquitos choram os 10 anos sem vitória em clássicos no Gauchão.

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