Nos últimos 40 anos, apenas 2, sim, DOIS clubes que não
fossem Grêmio e Internacional conseguiram ganhar o Campeonato Gaúcho, o
Juventude, em 1998, e o Caxias, em 2000. O Alviverde caxiense, aliás, foi
campeão da Copa do Brasil em 1999, e se manteve mais de 10 anos consecutivos na
Série A do Brasileirão, enquanto o Grená quase subiu para a elite nacional em
2001 (em decisão pra lá de discutível, diga-se de passagem). Desde 1973, em
apenas 15 anos os 2 primeiros colocados no Gauchão não foram Grêmio e Inter,
ainda que, se formos pegar os modelos com finais, em apenas 7 oportunidades nos
últimos 20 anos o campeonato foi decidido em Gre-Nal. Somente no ano passado 2
clubes do Interior decidiram um turno de Gauchão; na oportunidade o Caxias
venceu o Novo Hamburgo.
Não consigo comparar por nomes de clubes com a Espanha, ou
algo assim, mas vejo que o temor de alguns torcedores ao longo do Brasil já é
uma realidade há décadas aqui no Rio Grande do Sul. Hoje ela é mais
escancarada, com a Federação dando prioridade total aos clubes de Porto Alegre
(os 2 que “importam”, claro), e deixando de lado o futebol do Interior, que mal
tem um representante na Série C do futebol nacional, e os 2 “garantidos” (pelas
vagas reservadas pela CBF) na Série D. Já existe pouco incentivo para os clubes
crescerem no âmbito estadual, para esse desenvolvimento no âmbito nacional ele
é praticamente inexistente. Nem ao menos ajuda política, como apontam o
supracitado caso do Caxias, em 2001, e do Brasil de Pelotas, no ano passado. Se
depender da FGF, Grêmio e Internacional se tornarão 2 dos maiores clubes do
mundo, enquanto teremos apenas os tais “2 garantidos” na Série D do Brasil –
para eles me parece excelente esta hipótese.
Ironicamente, acabei simpatizando com o clube do “chefe”, e
que também não parece ganhar muita atenção do seu dono – a rede de lojas de
itens musicais deve dar bem mais lucro que um clube de futebol. Aqui mesmo, no
Vida Cancheira, acompanhamos alguns jogos do Esporte Clube São José, pelo
Gauchão do ano passado, e minha presença no Passo d’Areia, que era eventual,
vem se tornando freqüente. Em 2013 assisti a mais jogos do São José do que do
próprio Grêmio, clube do qual sou sócio há quase 3 anos. E no final da tarde do
sábado eu estava no primeiro e maior estádio com grama sintética do Brasil para
mais um jogo do nosso Estadual. O Zequinha, chamado de “o mais simpático do Rio
Grande”, é também o mais forte deste ano, enquanto líder de seu grupo, maior
pontuador no geral, e único clube do Estado a levantar taça em 2013. Tudo bem, foi
um torneio amistoso, a Copa Centenário, mas marcou a quebra de um período de 42
(!) anos sem ganhar sequer campeonato de par-ou-ímpar.
O jogo de ontem foi contra o Cerâmica, clube de Gravataí,
cujo estádio fica a 20 minutos da minha casa, ainda mais próximo que o Passo d’Areia
– o Vieirão é mais uma cancha que certamente visitarei neste Gauchão.
Normalmente o público na cancha do São José se concentra nas sociais, onde
normalmente me posiciono, e atrás da goleira da direita, a única que tem arquibancadas
e onde fica a barra do Zequinha, Os Farrapos, que costumam fazer um barulho
bacana, apesar de serem pouco mais de uma dúzia por jogo. Do outro lado, nem
uma alma sequer, nem para resgatar uma eventual bola que seja chutada para
aquele setor. Assim como no domingo passado, havia um contingente interessante
de torcedores adversários – na outra oportunidade era uma galera muito animada
que veio de Passo Fundo –, com trapos e quase todos com camisas do Cerâmica,
coisa não muito comum nas arquibancadas do São José, de quem a grande maioria é
apenas simpatizante. Afinal, não era o clube “mais simpático do Rio Grande”?
Entre os 2 jogos, contra Passo Fundo e Cerâmica, estive nas
arquibancadas do velho Olímpico Monumental, para assistir à estreia dos titulares
gremistas no certame, contra o até então invicto e INVIOLADO São José. Naquela
tarde/noite ficou ainda mais nítido que, se a dupla Gre-Nal levar a sério o
campeonato, dificilmente será vencida. Muitas vezes vemos o Campeonato Espanhol
com Real Madrid e Barcelona abrindo dezenas de pontos de vantagem sobre os
demais, com menos de 5 (!) derrotas ao longo de uma liga com 34 jogos, e isto
só não acontece aqui, porque muitas vezes os “grandes” da Capital ignoram o “charmoso”
Gauchão, como diria um famoso locutor da Província. Quando jogam às ganhas,
placares como o 5-1 do Grêmio sobre o São José e o 3-0 do Inter em cima do
Pelotas (fora o baile) se tornam comuns, e algo diferente disto, como na estreia
dos titulares colorados, no empate sem gols contra o Novo Hamburgo, é
considerado uma zebra.
O que acontece hoje aqui no Rio Grande do Sul, é uma amostra
do que muitos pensam que pode acontecer no Brasil em um médio-prazo. São 12
campeonatos sem que Inter ou Grêmio seja o campeão, e infelizmente isto não é
um absurdo. Como eu dizia anteriormente, não existe qualquer incentivo para os
clubes do Interior, nadinha de nada. Sei lá, eu não consigo mensurar quantos
torcedores haviam neste último jogo, e não sei se chegou ao milhar a quantidade
de gente nos jogos contra Passo Fundo e Cerâmica. Isto é uma tendência na
grande maioria dos clubes do Interior, e em todos da Região Metropolitana, onde
é difícil encontrar alguém que seja torcedor apenas de Novo Hamburgo, Aimoré,
Cruzeiro, entre outros. Caxias do Sul e Pelotas são locais de resistência, onde
existem torcidas fortes e presentes às canchas destas cidades.
Eu defendo que a dupla Gre-Nal deveria ser retirada do
Gauchão. O torneio não se tornará menos atrativo sem Grêmio e Inter, visto os
públicos ridículos que eles levam aos seus estádios, e cada vez menos pessoas
vão os ver nos campos do Interior. A cota televisiva da dupla poderia ser
dividida entre os demais clubes, que fariam reforços nos seus elencos, ainda teriam
seus jogos televisionados, e a chance real de título – que, convenhamos, hoje
em dia é inócua – atrairia mais adeptos aos estádios. Dinheiro chama dinheiro:
com maior grana da TV, os times seriam melhores, angariariam mais renda nos
estádios, e as premiações por títulos acabariam tornando o crescimento dos
clubes uma coisa natural. Não vou me aprofundar, mas é só pegar o exemplo de
Santa Catarina, onde até ontem a Chapecoense não era nada, e uma sequência de
bons Estaduais a catapultou à Série B do Brasileirão.
Para não dizer que não falei das flores, o jogo entre São
José e Cerâmica foi um desastre. Não tivemos mais de 5 lances dignos de nota, e
a única ocorrência foi a expulsão do bom volante e capitão do Zequinha Willian
Paulista. Aliás, Willian estava jogando com a camisa 100, por alguma razão que
não sei explicar, se pelo centenário do clube, ou pelo nº de jogos (o que acho
improvável). O jogo foi tão bom, que fiquei o 2º tempo inteiro conversando com
um senhor de 81 anos chamado Cândido, aposentado do Exército de um forte
sotaque carioca, que me contou ter jogado em clubes como Flamengo e Botafogo
entre 1948 e 1954, além de ter histórias sensacionais da sua carreira na
Marinha. Espero encontrá-lo mais vezes no, assim como ele, seu Cândido,
simpático Passo d’Areia.
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