O sentimento já não é mais de tristeza, tampouco de raiva.
Diria que é uma decepção momentânea, enquanto o velório acontece, depois vem a
resignação, a sensação do “eu já sabia” que ronda a cabeça do gremista
minimamente consciente da capacidade do time. Esta resignação fica mais forte
quando são ouvidas as manifestações de jogadores, comissão técnica e direção
após um vexame do tamanho de mais uma eliminação em oitavas-de-final de
Libertadores. Parece que nada foi aprendido de 2011 para cá. Penso que eu
aprendi... aprendi a torcer por um time que, infelizmente, deixou de ser
grande. As 2 últimas Libertadores foram lamentáveis, de se esquecer. Esquecer,
não, lembrar. Lembrar, remoer, sentir a dor e o amargo da derrota e aprender. O
Grêmio não aprende. Oferece sofrimento, vergonha e humilhação em prato decorado
com requintes de crueldade para seu torcedor.
Quis o destino que Medina, aquele que iria “comer o Grêmio”,
colocasse a cereja, devidamente avermelhada, sobre o bolo da desgraça tricolor.
Faltando 10 minutos para o final do jogo. Mas não foi este gol que eliminou o
Grêmio, nem o gol de pênalti do argentino Pérez no jogo de ida. Nem as derrotas
para Huachipato e Caracas na fase de grupos. O Grêmio foi o 15º entre 16
classificados na fase de grupos. Perdeu para o 2º melhor, deu a lógica. Fora o
fato de ter sido o 4º colocado no Campeonato Gaúcho, atrás de 2 clubes que não
estão em nenhuma das divisões do Brasileirão. Não havia a menor possibilidade
de ser campeão de nada, como, de fato, não é e não vai ser pelo décimo-segundo
ano consecutivo. Um time que não fura retrancas de times teoricamente mais
fracos e se acadela nas situações adversas. As eliminações internacionais neste
biênio foram assim.
Olha, vejo que o “comer o Grêmio” vai ser bem mais literal
que a simples eliminação na Libertadores. O Grêmio tem um grupo caro,
absolutamente desequilibrado e um contrato amarradíssimo com a construtora do
seu (?) estádio. No meu entender, ganhar a Libertadores seria muito maior que a
conquista de um título, seria a garantia da sobrevivência enquanto clube, enquanto
instituição. Este tipo de coisa não se coloca na cabeça dos jogadores antes de
entrar em campo, quando se está no circo dos grandes clubes. Hoje você sai do
Grêmio, amanhã você pode estar, na Europa, no Inter, no Corinthians, no Flamengo...
A situação dentro de campo é decepcionante, mas a situação fora de campo é
preocupante, assustadora. Enquanto sócio e torcedor interessado nas questões
institucionais do clube, admito que tenho medo do restante desse 2013. Será um
ano longo...
Um pouco de números. Nas últimas 2 Libertadores, foram 20
jogos, entre 1ª e 2ª fase e oitavas-de-final, fim da linha em ambas as
oportunidades. Foram 9 vitórias, 4 empates e 7 derrotas. Entre os resultados,
incluem-se derrotas para os poderosos Oriente Petrolero, Huachipato, Caracas e
empates com León de Huánuco e Liverpool uruguaio. Direções diferentes,
comissões técnicas diferentes, perfis de grupos diferentes, mas os mesmos
resultados vexatórios, humilhantes, culminando em eliminações para times sem
nenhuma tradição. Óbvio, o futebol mudou, camisa não ganha jogo, entre outros
decretos do futebol moderno, mas é inadmissível que um clube do tamanho do
Grêmio não consiga montar um time melhor que Universidad Católica ou
Independiente Santa Fe. Ou teria o Grêmio se reduzido ao tamanho das
supracitadas equipes?
É duro admitir que o Grêmio se tornou um coadjuvante no
futebol regional, nacional e internacional. O time gremista não saiu do papel,
mas saiu prematuramente da Libertadores. Novamente. Hoje não adianta abordar
questões táticas, apontar jogador A ou B, porque nada deu certo. O Grêmio
Foot-Ball Porto Alegrense se tornou uma baderna total, dentro e,
principalmente, fora do campo. O time escapou contra a Liga de Quito, escapou
contra o Fluminense, escapou contra o Huachipato, uma hora a tentativa de fuga
da morte não aponta nenhum caminho plausível. O cerco é fechado e em
determinado momento as escolhas cobram seu preço – a conta do Grêmio foi
pesadíssima, o débito era muito superior ao crédito. Instituição no prejuízo
quebra, time que está devendo cai. O Grêmio caiu, foi justa e definitivamente
expurgado da Copa Libertadores da América.