sexta-feira, 17 de maio de 2013

Driblando a morte até acabar o campo

O Grêmio foi justa e definitivamente expurgado da Copa Libertadores da América. A história que vai para os livros acabou no início da madrugada desta sexta-feira, 17 de maio de 2013, em Bogotá, capital colombiana. No entanto, a desgraça veio sendo adiada desde o final de janeiro, início de fevereiro, quando o time contou com uma boa dose de sorte para passar pela Liga de Quito na 1ª fase da Libertadores. Talvez venha desde a antepenúltima rodada do Brasileirão do ano passado, quando 45 mil pessoas assinaram a renovação de contrato de Vanderlei Luxemburgo, técnico que nunca ganhou e nunca ganhará nenhuma competição internacional de mínima importância. Isto já havia sido provado na Copa Sul-Americana do ano passado, quando a equipe gremista caiu para o Millonarios, arqui-rival do Santa Fe, o algoz da vez. É, a Colômbia não faz bem ao Grêmio, mesmo...

O sentimento já não é mais de tristeza, tampouco de raiva. Diria que é uma decepção momentânea, enquanto o velório acontece, depois vem a resignação, a sensação do “eu já sabia” que ronda a cabeça do gremista minimamente consciente da capacidade do time. Esta resignação fica mais forte quando são ouvidas as manifestações de jogadores, comissão técnica e direção após um vexame do tamanho de mais uma eliminação em oitavas-de-final de Libertadores. Parece que nada foi aprendido de 2011 para cá. Penso que eu aprendi... aprendi a torcer por um time que, infelizmente, deixou de ser grande. As 2 últimas Libertadores foram lamentáveis, de se esquecer. Esquecer, não, lembrar. Lembrar, remoer, sentir a dor e o amargo da derrota e aprender. O Grêmio não aprende. Oferece sofrimento, vergonha e humilhação em prato decorado com requintes de crueldade para seu torcedor.

Quis o destino que Medina, aquele que iria “comer o Grêmio”, colocasse a cereja, devidamente avermelhada, sobre o bolo da desgraça tricolor. Faltando 10 minutos para o final do jogo. Mas não foi este gol que eliminou o Grêmio, nem o gol de pênalti do argentino Pérez no jogo de ida. Nem as derrotas para Huachipato e Caracas na fase de grupos. O Grêmio foi o 15º entre 16 classificados na fase de grupos. Perdeu para o 2º melhor, deu a lógica. Fora o fato de ter sido o 4º colocado no Campeonato Gaúcho, atrás de 2 clubes que não estão em nenhuma das divisões do Brasileirão. Não havia a menor possibilidade de ser campeão de nada, como, de fato, não é e não vai ser pelo décimo-segundo ano consecutivo. Um time que não fura retrancas de times teoricamente mais fracos e se acadela nas situações adversas. As eliminações internacionais neste biênio foram assim.

Olha, vejo que o “comer o Grêmio” vai ser bem mais literal que a simples eliminação na Libertadores. O Grêmio tem um grupo caro, absolutamente desequilibrado e um contrato amarradíssimo com a construtora do seu (?) estádio. No meu entender, ganhar a Libertadores seria muito maior que a conquista de um título, seria a garantia da sobrevivência enquanto clube, enquanto instituição. Este tipo de coisa não se coloca na cabeça dos jogadores antes de entrar em campo, quando se está no circo dos grandes clubes. Hoje você sai do Grêmio, amanhã você pode estar, na Europa, no Inter, no Corinthians, no Flamengo... A situação dentro de campo é decepcionante, mas a situação fora de campo é preocupante, assustadora. Enquanto sócio e torcedor interessado nas questões institucionais do clube, admito que tenho medo do restante desse 2013. Será um ano longo...

Um pouco de números. Nas últimas 2 Libertadores, foram 20 jogos, entre 1ª e 2ª fase e oitavas-de-final, fim da linha em ambas as oportunidades. Foram 9 vitórias, 4 empates e 7 derrotas. Entre os resultados, incluem-se derrotas para os poderosos Oriente Petrolero, Huachipato, Caracas e empates com León de Huánuco e Liverpool uruguaio. Direções diferentes, comissões técnicas diferentes, perfis de grupos diferentes, mas os mesmos resultados vexatórios, humilhantes, culminando em eliminações para times sem nenhuma tradição. Óbvio, o futebol mudou, camisa não ganha jogo, entre outros decretos do futebol moderno, mas é inadmissível que um clube do tamanho do Grêmio não consiga montar um time melhor que Universidad Católica ou Independiente Santa Fe. Ou teria o Grêmio se reduzido ao tamanho das supracitadas equipes?

É duro admitir que o Grêmio se tornou um coadjuvante no futebol regional, nacional e internacional. O time gremista não saiu do papel, mas saiu prematuramente da Libertadores. Novamente. Hoje não adianta abordar questões táticas, apontar jogador A ou B, porque nada deu certo. O Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense se tornou uma baderna total, dentro e, principalmente, fora do campo. O time escapou contra a Liga de Quito, escapou contra o Fluminense, escapou contra o Huachipato, uma hora a tentativa de fuga da morte não aponta nenhum caminho plausível. O cerco é fechado e em determinado momento as escolhas cobram seu preço – a conta do Grêmio foi pesadíssima, o débito era muito superior ao crédito. Instituição no prejuízo quebra, time que está devendo cai. O Grêmio caiu, foi justa e definitivamente expurgado da Copa Libertadores da América.

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