sábado, 9 de julho de 2016

Bailando tango en el caos: os 15 anos do Mundial Sub-20 na Argentina

Comandados por Saviola, D'Alessandro e Romagnoli, os Pékerman Boys deram show no Mundial Sub-20 de 2001, em território argentino (Foto: AFP / Divulgação)
O futebol nos reserva alguns momentos que, uma vez presenciados, se tornam marcos na vida dos fãs do esporte. Ontem se completaram 15 anos que a Argentina conquistou o quarto dos seus seis títulos mundiais na categoria Sub-20, em competição disputada em território argentino, decidida no Dia da Independência do país. Eu já era um entusiasta do futebol dos nossos hermanos, depois de ver o grande Boca Juniors de Carlos Bianchi varrer a Argentina e a América entre 1998 e 2001, além da ótima seleção albiceleste, que só parou na poderosa Holanda na Copa do Mundo da França, também em 1998.

A Argentina vinha de dois títulos nas três edições anteriores do Mundial Sub-20, e a geração de 2001 definitivamente não era a mais promissora, já que os times de 1995 e 1997 contaram com nomes do calibre de Sorín, Riquelme, Aimar, Samuel e Cambiasso. De um modo geral, o trabalho de José Pékerman nas categorias de base argentinas era brilhante, tendo revelado grandes craques para o país, além de realizar grandes campanhas nas competições das chamadas juveniles. Este cartaz inclusive o alçou para o comando da seleção principal, para realizar o trabalho visando à Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, mas isso é outra história.

O contexto socioeconômico do país era caótico. A crise que já durava dois anos, caminhava para o seu patamar mais crítico, que acabaria eclodindo no final do ano, com as consequências do chamado corralito, instituído pelo então presidente Fernando de la Rúa. A indignação da população nas ruas, sobretudo a mais jovem, ganhava voz nos microfones, com o surgimento da cumbia villera, que se destinava a falar dos malogros de viver na Argentina naqueles tempos. No âmbito futebolístico, um dos melhores times do mundo era argentino, o Boca Juniors, que ganhara dois títulos consecutivos da Libertadores da América e um Mundial, em 2000, sobre o Real Madrid. Além disso, a seleção principal treinada por Marcelo Bielsa nadava de braçada nas Eliminatórias e encantava o mundo, ainda que sem grandes conquistas.

O Mundial ser sediado na Argentina talvez tenha sido um prêmio pelo retrospecto nas competições de base, e o fator local foi aproveitado como poucas vezes se viu em torneios envolvendo seleções. Mandando seus jogos no alçapão do Jose Amalfitani, cancha do Vélez Sarsfield, os argentinos foram literalmente perfeitos. Não só perfeitos, como avassaladores. Os números não mentem: sete vitórias em sete jogos, absurdos 27 gols marcados e apenas 4 sofridos. Artilheiro, craque da competição, prêmio Fair Play da FIFA... A Argentina simplesmente gabaritou a disputa.

Quase todos os titulares daquela equipe ganharam muitos títulos na carreira e defenderam grandes equipes em suas trajetórias. Talvez os únicos que não tenham ganhado notoriedade foram o lateral-esquerdo Julio Arca e o volante Nico Medina, curiosamente os únicos jogadores daquele plantel que já militavam no futebol europeu, ambos atuando no Sunderland, da Inglaterra. De resto, a escalação da final contra Gana fala por si só: Caballero; Burdisso, Colotto, Cetto e Arca; Ponzio e Nico Medina; Maxi Rodríguez, Romagnoli e D’Alessandro; Saviola. Sem contar nomes como Chori Domínguez, Coloccini e Germán Lux.

Naquele Mundial também surgiram nomes importantes do futebol internacional nos anos seguintes, como Kaká, Adriano Imperador, Cissé, Essien, Mexès, Van der Vaart, Donovan, Huntelaar, entre outros menos votados. Ou seja, a competição era acirrada, com Brasil e França, principalmente, contando com bons times, além da Holanda e dos africanos, sempre fortes na base.

A campanha argentina começou com uma tímida vitória por 2 a 0 sobre a Finlândia, quando nem a torcida estava no espírito da competição, o que se tornaria uma sinergia perfeita com o time nas fases seguintes. Na sequência, duas goleadas acachapantes sobre Egito e Jamaica, 7 a 1 e 5 a 1, respectivamente – só Saviola marcou cinco gols nesses jogos e encaminhou a artilharia da competição. Nas oitavas de final, dificuldades contra a surpreendente China, com direito a falha grotesca de Germán Lux e gol de Chori Domínguez a 10 minutos do final. Passado o sufoco, a adversária nas quartas de final seria a fortíssima seleção francesa.

Com muita festa da torcida nas tribunas do Fortín de Liniers, o show de Saviola começou cedo, com o atacante abrindo o placar aos 5 minutos. No entanto, depois de uma primeira parte de amplo domínio argentino, a França começou a gostar do jogo e apresentar sua força aérea, se aproveitando da fragilidade defensiva do time de Pékerman. O empate veio, ainda no primeiro tempo, aos 44 minutos, com Mexès, mas os franceses sequer tiveram tempo para comemorar – menos de dois minutos depois Saviola empatou, convertendo pênalti inexistente sofrido por ele próprio. No final do jogo, em contra-ataque que contou com assistência genial de D’Alessandro, el Conejo completou seu hat-trick e fechou o placar em 3 a 1.

O Paraguai apareceu no caminho argentino nas semifinais, e Saviola apareceu no caminho paraguaio. Dois gols do avante do River Plate abriram o caminho para mais uma goleada, completada por Romagnoli, D’Alessandro e pelo reserva Pollo Herrera. Domínio amplo na competição, goleada nas semifinais, e mesmo contra uma perigosa Gana, a Argentina tinha total favoritismo ao entrar em campo naquele 8 de julho de 2001. Mesmo sem contar com nomes importantes como Coloccini e Domínguez, nenhuma das mais de 30 mil pessoas imaginava sair derrotada do campo do Vélez naquela tarde ensolarada e fria de domingo.


O vídeo acima fala por si só. Uma festa absurda dos torcedores, pressão total do time albiceleste e mais uma vitória incontestável deram o tetracampeonato mundial na categoria Sub-20 para a Argentina. A brilhante geração de jogadores nascidos até 1981 se juntou ao timaço vindo dos campeões de 1995 e 1997, e formou a espinha dorsal do ótimo time comandado pelo próprio Pékerman, que fez boas campanhas entre 2003 e 2006, mesmo fazendo parte deste período insuportável sem títulos da seleção principal – mas que comandaram a Argentina na conquista do ouro olímpico, em 2004.

Apesar de terem carreiras sólidas, repletas de conquistas, os dois jogadores desta geração que mais admiro não chegaram a ser “World Class”. Claro que falo de Leandro Romagnoli e Andrés D’Alessandro. Os torcedores de San Lorenzo e do Internacional certamente serão gratos para sempre, por todos os serviços prestados por eles aos clubes, mas estes eram jogadores que eu imaginava liderando a seleção argentina em títulos de Copa América, de Copa do Mundo, e em grandes clubes do futebol europeu. Junto de Saviola, estes foram os expoentes técnicos desta equipe que me fez respeitar ainda mais a qualidade, raça e vontade de vencer dos argentinos.

Estas três excelentes matérias, além das fichas da FIFA, tem conteúdo muito bom sobre a conquista da Argentina em 2001:

Argentina campeón Sub-20 2001, do argentino El Gráfico
MUNDIAL SUB-20 / ARGENTINA 2001:NO MARAVILHOSO MUNDO DE PEKERMAN, do português Planeta do Futebol (rara matéria da época)
El Sub 20 campeón, una fiesta de fútbol, do argentino La Nación

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