segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Decepção programada

Henrique Almeida e Edílson observam Robinho comemorando, sem saber o que fazer. Àquela altura do campeonato, nada mais poderia ser feito... (Foto: Reprodução / Folhapress)
Poucas situações na vida podem ser tão paradoxais quanto a saída de um estádio de futebol. É um momento de absoluta comunhão de expectativas frustradas ou de júbilo embriagante que pode influenciar nas próximas horas, semanas ou vidas, dependendo do peso da entrega no placar final. Poucas coisas no futebol são piores que sofrer um gol nos minutos finais. Aí não importa o contexto, o desgraçamento mental e a sensação de que aquilo era uma coisa totalmente evitável tomam conta dos nossos corações e nos fazem ter uma ressaca moral aparentemente incurável.

Este poético e rebuscado prólogo só serve para expressar o quanto está sendo difícil de lidar com o empate que o Grêmio sofreu ontem para o Atlético-MG, na Arena. O Tricolor foi amplamente superior, não correu nenhum risco durante o jogo e mesmo assim não saiu com a vitória, prova cabal que a justiça acontece apenas nos tribunais, e olhe lá. O 1 a 1 mantém o time gremista na 6ª colocação no Brasileirão, com 36 pontos, 7 a menos que o líder Palmeiras, ainda que tenha um jogo a menos em relação aos demais times da parte de cima da tabela. Este jogo a menos, contra o Botafogo, será o próximo compromisso do Grêmio, no próximo domingo, às 16h.

Quando a formação inicial do Grêmio foi anunciada, não vi com bons olhos a opção pelos três volantes, mesmo que nenhum deles seja propriamente um quebrador de bola, muito pelo contrário. Fiquei apreensivo, pois jogando contra um adversário que claramente iria jogar mais postado, o time poderia perder poder de fogo. No entanto, desde o primeiro minuto o Grêmio amassou, indo para cima do Atlético-MG e povoando o campo adversário, como o caráter decisivo do jogo exigia. Ainda assim, mesmo jogando inteiro no território rival, o time gremista tinha pouquíssima profundidade, com Luan e Bolaños jogando abertos e sem chegar perto da área defendida pelo campeão olímpico Uílson.

A volta do intervalo foi de manutenção do estilo, e deu certo. Logo no início do 2º tempo Luan contou com a sorte, e viu um chute despretensioso da entrada da área explodir em Ronaldo e encobrir Uílson. O Grêmio continuou dominando o jogo, tecnica e territorialmente, mas sem criar mais chances claras de gol. Aqui cabe um parêntese: em que pese ter marcado o gol da vitória contra o Atlético-PR na última quarta-feira, pela Copa do Brasil, ontem foi mais uma jornada infeliz do equatoriano Miller Bolaños. O camisa 23 gremista insiste em não justificar o enorme investimento feito em seu futebol, seja pelas decisões erradas ou posicionamento equivocado dentro de campo, seja pela infinidade de gols perdidos. Haja arroz para pagar esse prejuízo.

O técnico Roger Machado também parece ter perdido a paciência com o outrora “Killer” e voltou a apostar no fraco Henrique Almeida, após uma sequência de jogadas malfadadas do ex-astro do Emelec. E após uma troca ainda mais malfeita do treinador gremista, eu perdi a paciência com ele. A entrada de Ramiro na vaga de Douglas, deixando o time com inacreditáveis 4 volantes em campo, era o prelúdio de uma tragédia que não tardou a acontecer. Mais precisamente 5 minutos após a mudança, aos 41’ do 2º tempo, Robinho, que sempre gostou de marcar contra o Grêmio, aproveitou uma paciente troca de passes do Galo e acabou com a festa gremista. Aí é o momento em que eu deixo de saber o que pensar e só sei o que sentir – e como xingar.


Em primeiro lugar, como é que ninguém tem a capacidade de matar a troca de passes de um adversário que está em busca do resultado? Como é que um time com 4 volantes fica apenas observando o toque de bola rival, com jogadores trotando no campo defensivo? Por que o treinador não estava à beira do gramado esbravejando para não deixarem o adversário jogar? Por que essa insistência em um futebol bonito que não permite jogar sujo para garantir um resultado? A vitória era vital na luta pelo título brasileiro e foi jogada no lixo, sem remorso algum e com a complacência de parte da torcida que aplaudiu o time ao final do jogo. Honestamente, prefiro um time que jogue mal, passe aperto o tempo todo, mas que obtenha os resultados. Nessa altura do campeonato, o mais importante são os 3 pontos, podendo ser desprezado o aspecto qualitativo, sem dor alguma na consciência.

Se eu pudesse indicar uma leitura para Roger Machado, certamente seria “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.  Talvez ele aprenda um pouco sobre ambição e sobre as coisas a serem feitas para alcançar determinado objetivo. Vejo um perfil conformista no comandante gremista e os jogadores absorvem essas pequenas coisas para seus subconscientes, o que impede um centromédio de enfiar a pata no seu adversário para minimizar qualquer chance de sofrer um gol. O que quero dizer é que, para vencer, às vezes é necessário transgredir e ignorar as regras, mesmo que isso seja antiético, imoral, chame como quiser. No aspecto técnico Roger é excelente, encontrou uma maneira de jogar que se adéqua ao elenco à disposição, mas que não tem aquele algo a mais que caracteriza um time vencedor.

O Brasileirão não está perdido para o Grêmio, ainda faltam 17 jogos, e o Tricolor também arrancou muito bem na Copa do Brasil. Falta mesmo é convencer o torcedor que nos momentos cruciais o time não vai travar, deixando de fazer um mísero golzinho contra um adversário da zona de rebaixamento, ou levando um gol qualificado que o eliminará de uma competição eliminatória. Hoje, a impressão é que um roteiro assim já está pré-escrito, pronto para ser colocado em cena. O Grêmio precisa mesmo é deixar de ser esse anti-clímax em forma de clube de futebol, que sempre dá um jeito de decepcionar seu torcedor de uma forma diferente – e cada vez mais cruel.

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