terça-feira, 23 de agosto de 2016

Equilíbrio inglório

O Cruzeiro se recuperou um pouco no Brasileirão, mas seus torcedores andaram protestando forte contra a situação delicada que o clube ainda vive (Foto: Reprodução / UOL)
O Brasileirão sempre foi um campeonato dos mais esquisitos. Na nova fórmula de pontos corridos, vigente desde 2003, as coisas passaram a ter um pouco mais de lógica e foi composta uma hierarquia de clubes ainda maior que a existente nas décadas anteriores. A pirâmide do futebol brasileiro está bem dividida, com castas bem caracterizadas em seus respectivos escalões, mas nada impede que tenhamos surpresas nos dois extremos das tabelas, não importando a divisão. Este ano a Série A vem mostrando um equilíbrio que não se via a algumas temporadas, com brigas intensas pelas primeiras colocações e na luta contra o rebaixamento.

Na parte de cima da tabela, apenas 5 pontos separam o líder Palmeiras do 6º colocado Grêmio, que ainda tem um jogo a menos em relação aos adversários. Existe um pelotão à espreita, que fecha a primeira parte da tabela, e está a 10 pontos do ponteiro do campeonato. A briga pelas 4 vagas que o Brasileirão oferece para a Libertadores da América do ano que vem deve ser ferrenha até as rodadas finais, pois nenhuma equipe dispara, devido à incrível irregularidade que é marca registrada nesta temporada do futebol brasileiro. Quando parece que algum time pode disparar, aparece uma Ponte Preta para visitar o primeiro colocado e segurá-lo.

O que surpreende, na verdade, é a quantidade de times que estão credenciados a lutar por posições no final da tabela. Ou melhor, a quantidade de times jogando um futebol de nível débil, digno de divisões inferiores do futebol brasileiro. Aviso que assistir a jogos de times como América-MG, Coritiba, Figueirense e Santa Cruz pode causar dependência, te levar a drogas mais pesadas, como jogos do CRB ou do Brasil de Pelotas, e a reabilitação é muito, mas muito difícil. Só que o mais impressionante, e de efeitos devastadores, é ver times como Cruzeiro, Internacional e São Paulo com espírito e futebol de times rebaixáveis. Por sinal, os clubes citados jamais foram rebaixados, o que torna a situação ainda mais assustadora.



O América-MG tem 5 dos 6 pregos fincados em seu caixão. Com 13 pontos em 21 jogos, não tem mais volta, nem por um milagre. Ou seja, sobram 3 vagas para 9 clubes separados por 8 pontos. O que essa montoeira de números quer dizer? Simples, que vai ter muito choro e ranger de dentes nas 17 rodadas que teremos pela frente. Tenho para mim que até a 30ª rodada as coisas estarão mais claras, com definições nas partes de cima e de baixo da tabela. Aqui vai um tranquilizante aos torcedores dos clubes supracitados: nenhum deles vai conhecer os porões da Segunda Divisão, ao menos não em 2017. Por pior que eles possam estar agora, todos tem capacidade de recuperação, sobretudo gaúchos e mineiros, de situação mais delicada.

No entanto, o recado está dado: é hora de acordar! Muitos clubes grandes caíram no conto do “clube grande não cai” e “a Série B não é o nosso lugar”, e acordaram fora da elite do futebol brasileiro. Vejo muita soberba dentro dos clubes, de achar que as coisas se resolverão por mágica, ou pelo peso da camisa. Internacional e Cruzeiro estão seguindo à risca a famosa “Cartilha do Rebaixamento”, com trocas de treinadores e decisões gerenciais no mínimo discutíveis. O São Paulo vem jogando pouco faz tempo e está em queda livre no campeonato. Times mais fracos, como Coritiba, Figueirense, Botafogo e Vitória prometem lutar até o fim, pois são conscientes de suas limitações e de suas realidades.

As próximas rodadas serão de um nível emocional elevadíssimo. Todos os times nessa faixa da tabela enfrentam suas próprias dificuldades e é difícil fazer uma aposta. Apesar dos pesares, o Cruzeiro está em franca ascensão e venceu um confronto direto contra o Figueirense neste final de semana. Por outro lado, o Internacional está a inacreditáveis 13 jogos sem vencer e vai encarar duas pedreiras na sequência – o Sport, fora de casa, em confronto direto, e o Santos, no Beira-Rio – e precisa urgentemente voltar a vencer. Vitória, Santa Cruz e Figueirense, hoje, parecem ser os favoritos à queda. Mas, em duas rodadas, tudo pode mudar, sobretudo nessa loucura que é o Brasileirão 2016.

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