domingo, 4 de setembro de 2016

Não me digam o que pensar, não me julguem por sentir

Camilo marcou um gol antológico, que abriu o caminho para a ótima vitória do Botafogo sobre o Grêmio (Foto: Vítor Silva / SSPress / Botafogo FR)
O texto de hoje poderia muito bem ser a continuação do que escrevi no início da semana que passou sobre o jogo do Grêmio contra o Atlético-MG. O tão falado jogo a menos que o time de Roger Machado tinha a cumprir contra o Botafogo foi um desastre. O placar de 2 a 1 não condiz com o que foi a partida, foi totalmente enganoso. Afirmo isto avaliando o quão fraca e calamitosa foi a atuação gremista na tarde deste domingo, mesmo com os desfalques de Marcelo Grohe, Pedro Geromel e Miller Bolaños (esse nem tão desfalque assim). Foi aquele famoso jogo onde ninguém ganha nota maior que 5 na avaliação dos jornais na segunda-feira, todos com atuação abaixo das suas médias históricas no campeonato.

Começamos pelo ânimo do time. Nunca saberemos o que havia no almoço dos jogadores em algum dos luxuosos hoteis da capital carioca, se o calor era tão forte que pudesse causar danos cerebrais aos jogadores ou se aconteceu algo sobrenatural no trajeto pela Linha Vermelha. A verdade é que o time entrou em campo absolutamente travado. Podem dar a desculpa do péssimo gramado, digno dos melhores campos de várzea do Brasil, mas o terreno de jogo é o mesmo para os dois times; se o Botafogo consegue trocar passes no gramado do Luso-Brasileiro, e o Grêmio não, eis um grande problema. E quando Luan é o jogador mais aceso do time em um jogo – não que isto deponha contra ele –, aí é o momento de chacoalhar de vez o elenco.

A vontade que tenho, hoje, é buscar fragmentos de textos sobre outros jogos e registros de redes sociais para não passar por oportunista. Mas como não tenho a cara de pau suficiente para fazer isso, vamos às minhas impressões... O atual técnico gremista não tem o perfil para a chacoalhada supracitada, muito menos há dirigentes no clube com este culhão, já me desculpando pelo termo. Dentro do elenco aparentemente não existe uma liderança obstinada, com moral e capacidade para elevar o time durante os jogos, quando a coisa aperta. O fato de os capitães, pelo menos hoje, serem Maicon e Marcelo Oliveira explica muita coisa. O time é bem montado, mas em alguns jogos se mostra acéfalo, dentro e fora de campo.

Hoje sequer bem montada a equipe foi. O pouco argumento que eu tinha para elogiar o trabalho de Roger Machado se esvaiu como a areia das subestimadas praias da Ilha do Governador. O tal 4-2-3-1, cantado e decantado como a grande virtude gremista, sendo um sistema tático bem estruturado e azeitado, caiu no esquecimento, dando lugar a um Frankenstein com 3 volantes que envergonharia até os maiores entusiastas do catenaccio. Aquele arroz com feijão cumpridor que dava resultados deu lugar a um miojo morno e aguado, que não mata a fome – ou melhor, aumenta o buraco no estômago. Tudo bem que existam desfalques, um gramado horroroso ou o maldito respeito ao adversário, mas não se pode enfrentar um time da linha de baixo da tabela com essa cautela toda, é inadmissível.

O pior não é a escolha pelo número excessivo de “apoiadores” (termo gourmetizado para denominar os volantes), o maior erro foi a disposição deles dentro de campo. Em hipótese alguma pode se tirar Walace da frente da zaga, posição onde ele vinha se destacando no Grêmio e foi muito bem nas Olimpíadas. Deixar ele em uma posição mais à frente, jogando mais aberto que centralizado, é tolher as maiores virtudes dele. A dupla Maicon e Jaílson foi inútil, nem tanto no aspecto técnico, mas no aspecto tático, pois o time ficou totalmente centralizado, pelas características destes jogadores – tecnicamente o campeão olímpico ainda foi pior que os colegas de função. Quanto às substituições feitas no setor, sequer vou me dar ao trabalho de comentar.

Do meio para a frente o time sucumbiu. Sem o “apoio dos apoiadores” e com o perdão do trocadilho, utilizando a referência alimentar feita mais cedo, o ataque morreu de fome. O melhor, como citado anteriormente, foi Luan, que ao menos buscou jogo, se movimentando totalmente fora da sua melhor posição, que é como o chamado “falso-9”. A referência ficou a cargo de Henrique Almeida, um 9 que deveria ser verdadeiro, mas é pior que os falsos. Ele mal tocou na bola, e ainda viu o garoto Matheus Batista, que entrou em sua vaga e numa fogueira altíssima, mostrar seu valor e marcar seu golzinho. Faltou falar de Douglas, mas ele aparentemente faltou ao jogo. Talvez ele nem tenha ido tão mal, até pode ter sido muito bem marcado, mas a postura deste pretenso atleta é uma das coisas mais irritantes que existem.

Dito isto, é necessário ressaltar a grande atuação de um Botafogo que deitou nas fragilidades gremistas, criando chances e dominando as ações até suas pernas acabarem, resultado de uma maratona de 3 jogos em 6 dias. O golaço de Camilo, em uma linda meia-bicicleta, entra para os anais dos maiores gols da história do Brasileirão em todos os tempos. O armador botafoguense também teve atuação importante na criação das jogadas e no abastecimento a Sassá, que marcou o 2º gol e deu permanente dor de cabeça a Kannemann e Wallace Reis. Luís Ricardo foi muito bem na lateral-direita, enquanto Aírton e o argentino Carli foram gigantes no sistema defensivo. O Botafogo, em que pese ter sido goleado pelo Cruzeiro no meio da semana, vem em uma boa crescente, com um time organizado, veloz e perigoso, sobretudo nos contra-ataques. Não deverá correr maiores riscos de rebaixamento.

O Grêmio, por sua vez, segue oscilando, alternando atuações bestiais com atuações de besta, ou atuações de gala com atuações de galinha, sendo um leão (quase) indomável dentro da Arena e um gatinho medroso longe dela. Essa irregularidade se percebe também na relação entre os adversários, pois invariavelmente o Tricolor se complica contra rivais mais fracos. Dos últimos 18 pontos, o Grêmio conquistou apenas 6, e nada melhor que os números para escancarar uma mediocridade que incomoda e muito. Nessa altura do campeonato pensar em título é utopia, e o mais racional é aceitar que teremos que nos contentar novamente com aquela vaga que, vocês sabem...

A realidade é olhar para trás na tabela, pois o pelotão intermediário de Ponte Preta, Fluminense e Atlético-PR se aproxima perigosamente – os dois primeiros, inclusive, são adversários gremistas nas próximas 4 rodadas. Pelo futebol que o Grêmio não vem apresentando nos últimos jogos, ficar pelo caminho é uma possibilidade e a luz amarela deve ser acesa nas bandas da Arena. Eu pedi no último texto uma prova de que o time não travaria nos momentos cruciais e hoje o time não se impôs em nenhum minuto contra um adversário claramente inferior. É muito difícil torcer e apoiar um time sem ambição, e é ainda mais difícil defender um treinador que não consegue tirar esse espírito dos seus comandados.

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