domingo, 2 de outubro de 2016

Angústias de um sábado à noite

O Inter pediu e o torcedor atendeu: quase 35 mil pessoas apoiaram o time do início ao fim na vitória sobre o Figueirense, em pleno sábado à noite (Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional)
Na maioria das vezes em que me proponho a escrever aqui no Vida Cancheira é para falar sobre futebol, mas sempre colocando uma pitada de sentimento, até porque normalmente falo sobre Grêmio e é impossível me tirar do papel do torcedor frequentador da arquibancada. Nesta noite de sábado estive em um papel de relativa neutralidade. Fui convidado para assistir a Internacional e Figueirense junto a dois amigos torcedores colorados e, mesmo ciente da situação delicada que vive o clube do Beira-Rio, aceitei o convite.

A maioria das pessoas que me conhece sabe que sou um gremista um pouco fora do convencional. Embora fanático, interessado e envolvido com muitas questões do clube, não carrego comigo esse sentimento “anti-colorado” que a imensa maioria carrega consigo – e cuja recíproca é verdadeira. Minha família é inteiramente torcedora do Internacional, muitos dos meus melhores amigos também, e eu definitivamente não conseguiria me sentir feliz com um eventual rebaixamento do clube. Claro, não vou ser hipócrita, quando as situações envolvem grandes títulos é óbvio que torço contra. Mas sei muito bem o que os colorados estão passando, de abrir os jornais e ver a posição desconfortável em que seu time se encontra. Ou seja, tinha plena consciência de que a vitória era vital para o Internacional.

Costumo dizer que as demandas dos clubes no Brasileirão são definidas a partir da rodada 28, na qual estamos, pois a partir daí faltarão apenas 10 jogos para o final do campeonato, a chamada reta final. Já a alguns jogos a prioridade colorada é fugir da zona de rebaixamento, o que não aconteceria neste sábado, seja como fosse. Mesmo assim a torcida pegou junto, em um sábado à noite estranhamente frio do início de outubro, véspera de eleições, entre outras situações. Eu dizia para meus anfitriões algo que já disse aqui no blog, que o torcedor só frequenta o estádio quando o time enche os olhos, ou quando ele precisa do torcedor. Mais do que nunca, ao longo dos seus 107 anos de história, o Internacional precisa do apoio de seu povo, seja nas arquibancadas, seja com energias positivas para os jogadores.

Até no aspecto institucional o Internacional encarava o jogo como um dos mais importantes dos últimos anos, usando até a comparação com uma “final de Mundial”. Uma inglória decisão, e devemos concordar que esta analogia foi extremamente infeliz, mas necessária, para mobilizar jogadores e torcedores. Falando sobre o que aconteceu dentro das quatro linhas, o Internacional venceu por 1 a 0, gol do reabilitado Vitinho, logo no início da partida. O jogo foi fraco tecnicamente, como vem sendo a tônica dos duelos entre os times da parte de baixo da tabela do Brasileirão. Os comandados de Celso Roth pareciam muito mais preocupados em não cometer erros que pudessem proporcionar oportunidades para os catarinenses do que em matar o jogo e tranquilizar o torcedor de uma vez.


Estar em meio a muitos e angustiados colorados me fez pensar bastante durante o jogo, sobre como o futebol mexe com o torcedor. Ver o olhar de preocupação em todos e saber que, em meio a tantos problemas mais sérios que temos, o momento do time do coração ajuda a tirar o nosso sono de uma forma absurda. Nem entro nas questões de merecimento ou torcida por uma queda ou não do Inter, ou de qualquer outro time, é muito mais um lance conceitual, do quanto isso nos afeta. Na volta para casa encontrei dois torcedores colorados, na parada do ônibus, e troquei algumas palavras com eles, sobre coisas do ambiente do estádio. Absorver esse sentimento, sem compartilhar dele, é uma das coisas mais loucas do futebol. Por isso o futebol é o esporte mais popular do mundo, por isso move fortunas e multidões.

A vitória colorada não foi definitiva, e nem seria. Mas o clima que a torcida criou antes, durante e depois do jogo tende a reanimar o grupo de jogadores para tentar livrar o clube do pior. Na quinta-feira o Inter tem mais um jogo-chave para sua sobrevivência, quando receberá o Coritiba, outro concorrente direto na luta para fugir do Z-4. A frieza dos números é implacável, o Internacional segue na 18ª colocação, a 3 pontos do primeiro time fora da linha de rebaixamento e a briga deverá ser ferrenha até as rodadas finais. A lição que fica é que nos momentos ruins que o clube – seja ele qual for – deve olhar para o torcedor de verdade, aquele que abre mão de muitas coisas para estar ao lado do seu time, apoiando-o de forma incondicional. Que o Inter aprenda e traga o povo para seu lado enquanto ainda há tempo.

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